Apesar da diferença de idades sentia-me ao seu lado como um companheiro e um amigo com quem partilhámos vários momentos inesquecíveis, sempre com um humor e um olhar que tinha tanto de inteligente como de bondade.
Quem teve o privilégio de o visitar nas várias moradas por onde passou, como Embaixador, teve o gosto de sentir a hospitalidade de um grande anfitrião e de um grande diplomata que muito honrou este país.
Pessoalmente foi com ele que conheci a imponente e lindíssima Embaixada de Portugal no Vaticano e a também elegante Embaixada de Portugal em Madrid. Mas as relações de amizade e cumplicidade entre nós foram tecidas nesta nossa terra de Ponte de Lima com longas conversas no Paço de Calheiros e na belíssima Casa d’Aurora na qual passou e dedicou grande parte do tempo do final da sua vida, acompanhado pela sua finíssima e delicadíssima mulher, por quem guardo uma estima e uma memória inesquecíveis pelo seu trato e amizade. A Teresa sempre que me via perguntava pela minha Mãe e quando ia a Calheiros a primeira coisa que fazia era rezar um Pai-nosso junto da campa do meu Pai. Mulher inteligentíssima e que soube acompanhar e amar este homem que no fulgor da sua vida necessitava de ser apoiado e compreendido.
Muitas vezes abriu as suas portas aos grupos interessados em património e turismo e com este gesto promoveu Ponte de Lima, a região e o país a quem a TURIHAB está agradecida pela sua generosidade e disponibilidade de ajudar a criar um destino e a associar o património à gesta de bem receber.
Sempre presente na Festa do Senhor dos Perdidos, em Calheiros, tão bem descrita no Roteiro da Ribeira Lima da autoria do seu Pai, recordo tantos momentos de carinho e apreço que sempre evocava por esta casa.
Irrequieto, não conseguia estar sentado num jantar até ao fim. De repente desaparecia como que a necessitar de resolver algo muito importante. Mas não. Este era o seu feitio e todos nós já contávamos com isso.
Sempre atento ao que se passava na nossa terra, mandou-me por correio um recorte dum jornal com a foto do meu filho Francisco com o título o William Português. Ainda nos rimos um pouco à conta disso, porque coincidiu realmente com o Casamento do Príncipe William de Inglaterra, depois de o Francisco ter sido convidado para integrar um grupo europeu dos sósias do Príncipe a ir a Inglaterra na altura do casamento.
Grande entusiasta pelo património e pela história, ficámos a dever-lhe todo o empenho para a construção da estátua da Dona Teresa que honra a praça que um dia esperemos se venha a chamar, como já foi, a Praça da Rainha.
Com inúmeras condecorações e medalhas, foi no entanto com a bandeira da Ordem de Malta que se deslocou à última morada. Assim se fez tendo todos os Cavaleiros de Ponte de Lima participado nesta derradeira homenagem a um nosso decano, que esteve sempre presente em todos os actos, enquanto pôde representar a nossa Ordem.
Resta-me formular um desejo: que a geração vindoura, que são os seus filhos, todos com enormes qualidades para dar continuidade ao valor deste homem, saibam honrar o seu nome e esta Família a que esta terra tanto deve.
Ponte de Lima, 17 de Setembro de 2012
In: LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 29, de Outubro de 2012
