O Embaixador João de Sá Coutinho – Conde de Aurora, por Paulo Portas

 

O Embaixador João de Sá Coutinho – Conde de Aurora, por Paulo Portas



Paulo Portas
Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros entre
21.06.2011 e 24 .07. 2013



É um costume conhecido, e verdadeiro, dizer que a política externa portuguesa tem uma estabilidade e uma continuidade, independente da orientação política de quem ocupa a pasta dos Negócios Estrangeiros. Que os interesses nacionais são defendidos pelo mérito de uma “carreira diplomática” indiferente a cores partidárias ou a estados de alma passageiros. Mas, é bom lembrar, isto não significa que a política externa não se altere, não se adapte, às circunstâncias e a um mundo sempre em mudança.

Estas duas características, tão marcantes da nossa diplomacia – a continuidade dos nossos interesses e a adaptação à realidade –, são bem exemplificadas na vida e carreira do Senhor Embaixador João de Sá Coutinho.

Dificilmente se encontraria uma casa mais tradicional para se nascer, do que a de Nossa Senhora da Aurora em Ponte do Lima: casa fidalga envolvida nas anuais celebrações mais populares da sua vila, a mais antiga de Portugal.

Licenciado em direito, ingressou na “carreira diplomática” e partiu, como bom minhoto, para o mundo. Alto e esguio, era a verdadeira imagem do diplomata com tradição que lemos nos livros e vemos nos filmes. Mas era muito mais que isso: era o verdadeiro exemplo das capacidades de negociação, adaptação e defesa dos interesses de Portugal. Por isso, logo depois do processo de descolonização, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Mário Soares enviou-o, como o primeiro Embaixador de Portugal, para Bissau, tendo também passado por Luanda. A sua defesa dos interesses dos portugueses nos novos países levou mesmo a alguns – menos cientes das responsabilidades de representação do Estado – a chamarem-no “conde vermelho”! Ainda como Secretário-geral do ministério, coube-lhe a difícil condução desta “casa”, e como Embaixador junto da Sé acompanhou parte do pontificado de João Paulo II.

Infelizmente subsiste ainda uma ideia errada sobre o exercício da diplomacia, uma opinião recheada de glamour e recepções, de banquetes e festas.

A vida de João de Sá Coutinho é a prova do erro desse preconceito. A constante ligação às comunidades portuguesas e luso-descendentes, do Brasil ao Canadá – onde se conta que até no círculo polar ártico encontrou uma luso-descendente, de ascendência minhota está claro! –, as noites passadas sob fogo em Bissau e mesmo a dificílima negociação com um “pirata do ar” no aeroporto de Barajas, em Madrid, que resolveu com sucesso e sem derramamento de sangue. Esta é a verdadeira vida diplomática. E a vida do Conde de Aurora foi claramente exemplar.

No fim do seu serviço ao País, o filho do autor do “Roteiro da Ribeira Lima” regressou à casa de Nossa Senhora d’Aurora, como sempre fazia quando podia. Disse um dia, numa entrevista, que “quando estava fora e vinha cá era uma espécie de rejuvenescimento”. Talvez o antigo Embaixador de Portugal na Santa Sé sentisse o mesmo que o viajante italiano Júlio, personagem do livro “Estrangeiros no Lima”:

Devo confessar-vos sinceramente, que tendo eu viajado, por muitos paizes ferteis e amenos da Asia, America, e Europa tenho visto poucos, que sejaõ comparaveis, e tam apraziveis como as veigas, e deliciosas campinas, que se achão nas margens deste rio. Elle mesmo he todo alegria, e encantamento».

Depois de uma vida em que nos honrou, João de Sá Coutinho jaz agora na sua Ribeira Lima, no seu Portugal que serviu em vários continentes. Que Deus o guarde.

In:  LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 29, de Outubro de 2012

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

Sugestões