José Dantas Lima, um profissional polifacetado – Testemunho de Manuel Trigueiro

 

José Dantas Lima, um profissional polifacetado – Testemunho de Manuel Trigueiro

Longa viagem em comum e breves encontros em trânsito

 



Manuel Trigueiro



A Filosofia e as Artes, apesar da minha formação técnica de base, sempre as considerei como áreas prioritárias no processo educativo.

Acho mesmo que, em tempos em que fazer e saber fazer é determinante para a liberdade de cada um (a liberdade não existe sem independência económica e esta só se conquista através do desempenho de funções profissionais), a subvalorização de algumas áreas do conhecimento não só cerceia a capacidade criativa e argumentativa, como condiciona uma devida formação para a cidadania.

Falar de Dantas Lima como um artista (no sentido clássico do termo) é muito e é pouco. É muito porque a sua expressão artística é imensa, é pouco porque Dantas Lima por vocação e necessidade foi um profissional de atividade diversificada, ainda que sempre virado para as relações humanas (a formação, a mensagem, o estabelecimento de ligações e resolução de problemas concretos).

Por este facto, não irei escrever sobre o seu curriculum artístico, essencialmente no Teatro e Formas Animadas, como criador, ator, encenador, formador e dinamizador/organizador de eventos, mas do companheiro de trabalho com quem durante uma década tive o privilégio de privar.

Tinha do Dantas Lima imagem longínqua. Do rio Lima em Santa Comba, onde a malta desde muito jovem se concentrava, do campo de futebol das Raras, em São Pedro de Arcos (hoje ocupado por uma unidade fabril), onde, desajeitado mas esforçado, equipava pelo Moreira, e de duas peças de teatro apresentadas na Casa do Povo de Moreira e em Meixedo (Sopa Juliana?) nas quais representava. Confesso que, anteriormente, o meu conhecimento cénico e cinéfilo se resumia a alguns espetáculos de comédia, apresentados na eira e coberto do João Lavradas (alcunha), onde o João Chato – caiador, trolha e enterrador local – era cabeça de cartaz, e uma ou outra fita de Chaplin que periodicamente um senhor ambulante projetava numa loja escura do Joaquim Portela.

Quando a meados da década de oitenta, como o tempo passa, fui convidado a assumir responsabilidades como Delegado Distrital do Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ), apresentei-me nas exíguas instalações da Rua de Santo António, em Viana do Castelo, onde conheci a meia dúzia de colaboradores com os quais iria trabalhar e que, sinceramente, ficaram meus amigos para a vida. O Dantas era um deles. Se no primeiro momento foi minha preocupação tomar conhecimento da missão do FAOJ e simultaneamente inteirar-me das obrigações e boas práticas da gestão em administração pública (lembro-me de algumas reflexões solitárias sobre o falhanço do sistema burocrático, que tendo princípios entusiasmantes, “há regras e elas são iguais para todos”, acabou por ser associado a atitudes imobilistas e de pouca capacidade concretizadora), logo partimos, em equipa, para a identificação das nossas potencialidades, constrangimentos, objetivos e sonhos.

A preparação de Portugal para a entrada no espaço europeu, aliada à ambição mobilizadora e dinâmica política de Couto dos Santos (figura única da política de juventude em Portugal) transformou aquilo que era um Fundo (pequeno) de apoio ao associativismo, num verdadeiro espaço regional da Secretaria de Estado da Juventude. Dantas Lima foi um profissional determinante na implementação do processo, não apenas no nosso distrito, mas também na projeção que conquistamos.

O conhecimento da realidade distrital, a forma afável e simples utilizada na abordagem de qualquer problemática permitia-lhe facilmente idealizar formas criativas, identificar potencialidades e vulnerabilidades, participando de forma ativa na construção de soluções.

O FAOJ, mais tarde Instituto da Juventude (IJ e IPJ), passou a ser um serviço de intervenção transversal e “metediço”. Sentimos muitas vezes a dor de cotovelo de alguns, poucos, sem surpresa de onde (não) se esperava.

Dantas Lima esteve sempre ligado ao apoio ao associativismo, à formação de dirigentes associativos, ao planeamento e gestão de Campos de Trabalho e de Férias (nacionais e internacionais), à seleção, acompanhamento e avaliação de projetos de Férias Desportivas e à implementação dos projetos OTL e OTJ. Sempre imprimiu especial dinâmica à atividade do atelier de Teatro e de Formas Animadas, assim como à colaboração interinstitucional, nomeadamente no âmbito do PIPSE (Programa Interministerial da Promoção do Sucesso Educativo), do projeto VIDA (no âmbito da saúde) e das ações de intercâmbio nacional e internacional que promovemos. Deixou a sua marca no Cartão Jovem e assegurou o funcionamento da Galeria de Exposições no Centro de Juventude. Foi determinante na realização, em Viana do Castelo, de eventos de âmbito nacional, nomeadamente o Encontro de grupos de Teatro de Fantoches e o encontro de grupos de música popular. Tenho presente o seu contributo na pesquisa e elaboração do programa do Centro da Juventude, assim como o empenho pelas Pousadas de Juventude. Trabalhou na logística respeitante à instalação dos Centros Inforjovem, onde a colaboração das autarquias era necessária (cedência de instalações). O Inforjovem, gerido a nível nacional pela FDTI, contribuiu enormemente para a democratização do universo juvenil em Portugal. Os meios informáticos colocados em todo o país (de forma quase gratuita), contribuíram para a igualdade de acesso à informação, esbatendo desigualdades sociais existentes.

Aos meus colegas de trabalho de então e em particular ao Dantas Lima, tenho que agradecer a ajuda ao meu desempenho como nomeado político. Um nomeado político não é alguém, ou não deve ser, que precise de um emprego ou de um certo tipo de promoção que possa ostentar na lapela. Deve ser alguém que na observância das leis e rigor que regem a função pública, terá de acrescentar algo mais: disponibilidade, paixão pela resolução de problemas, predisposição para servir os cidadãos em condições de igualdade e capacidade para defender a região. Não pode ser apenas mais um elemento numa cadeia tranquila, mas um lutador pela área geográfica que representa, seja a nível de orçamento ou de obtenção dos recursos necessários.

Pouco tempo depois de eu terminar a minha última comissão de serviço como delegado distrital do IPJ, Dantas Lima integrou os quadros da Câmara Municipal de Ponte de Lima, no pelouro da cultura, onde se manteve até à sua aposentação. Como vereador, sem responsabilidades executivas, apreciei o seu trabalho.

Mais tarde, cruzei com ele no Rotary Clube de Ponte de Lima (2016), na homenagem em que foi distinguido como o Profissional do Ano. Acompanhei também o tributo que a Fundação do Inatel e a Associação Nacional de Teatro lhe prestaram na Póvoa de Lanhoso, distinguindo-o com o Prémio Prestígio Personalidade Fundação INATEL 2017, com a presença do enorme Ruy de Carvalho.

Devo-lhe uma visita às instalações onde desenvolve o seu mais recente projeto: RIPECA DANTAS. RIPECA da junção das primeiras sílabas do nome dos seus filhos, com quem por vezes me cruzo no espaço da minha atividade docente.

Desejo-lhe saúde que lhe permita continuar a desfrutar com a habitual alegria e desprendimento a vivência do tempo. Tempo, o bem maior que qualquer humano pode usufruir.

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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