Araújo Soares: As descobertas de um pintor

 

Araújo Soares: As descobertas de um pintor



Ricardo de Saavedra



(Artigo publicado na revista DN MAGAZINE n.º 139 de 30 de Outubro de 1988)

Há 20 anos, António de Araújo Soares efectuou a sua primeira exposição individual de pintura e desenho. Foi em Viana do Castelo, sua terra natal, e reflectia a violência da cor, o traço e sol africanos. De então para cá, tem sido longa a trajectória, recheada de formulações pictóricas e busca permanente.

Hoje, entre os artistas do Alto-Minho, Araújo Soares ocupa lugar de vanguarda, após participação em mais de meia centena de mostras individuais e colectivas. De Bruxelas a Joanesburgo, de Orense a Riom, do Casino Estoril à Bienal de Cerveira, passando por Arcos de Valdevez, Caminha, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Barcelos, Braga, Amarante, Vila Real e Lamego, o seu nome e talento imprimem presença de visita obrigatória. Em duas décadas executou mais de mil obras espalhadas pela África Austral, Europa e Estados Unidos.

Filho do artista vianense João Soares, cursou na Escola Industrial Nun'Álvares e tornou-se, entre 1954/58, sob orientação de mestre António Pedro, num dos representativos ceramistas portugueses.

Desenhador infatigável e impecável, enveredou depois pela decoração, arte em que obteve diversos galardões, incluindo uma medalha de ouro, na antiga Rodésia. Mas foi mais tarde, já em Moçambique, nas horas vagas de funcionário público, que descobriu a pintura. E a partir daí percorreu angustiado as mais diversas experiências, em busca do desconhecido que sobrevivia nele próprio.

Ao afastar-se do decorativismo, tornou-se em fauve neoprimitivo, de colorismo exuberante e composição rigorosamente medidas. As suas figuras apresentavam-se agressivas, o traço crispado e violento. Araújo Soares retratava um povo em revolta interior, sofrimento estampado no rosto feio, a lembrar Goya.

Quando depois do 25 de Abril regressa à pátria e deixa de desenhar negros de punho erguido e monhés de cofiós berrantes, apaixona-se pela gente humilde do seu Minho, sem abandonar no traço ou nas pinceladas as mesmas caras rudes e corpos deformados, exagerando-lhes a miséria das mãos calejadas e dos pés descalços.

Mas do fauvismo neoprimitivo inicial, passa para uma fase quase naïf, usando a figura como acidente, caricatural, apenas para obter os resultados pictóricos que ambiciona, à volta da riqueza dos trajes populares, das feiras típicas, da alegria das romarias.

Nos últimos quatro anos, porém, descobre o que me atrevo a classificar de pintura arquitectónica. Senhor que sempre foi de traço irrepreensível, dedica-se à pesquisa da perspectiva diferente dos monumentos, do ângulo inadvertido de uma rua com sacadas ou duma janela renascentista, onde a figura desaparece por completo para apenas dar lugar aos cambiantes da cor e à realidade. E esse é o período sabático que precede a nova aventura.

Hoje, quase abandonada a tinta-da-china colorida (matéria a que durante anos explorou todos os segredos), volta-se para a aguarela, o óleo, os acrílicos. Ao fauvismo nióbio, à ingenuidade da concepção, contrapõe a amenidade dos pigmentos, a estilização das figuras, o rigorismo controlado de uma imaginação audaciosa. Será que encontrou finalmente o desconhecido que nele vive?

Com 60 anos de juventude (e aqui juventude não é lugar-comum), a dinâmica electrizante deste artista empurra-o também em busca de outros quadrantes. Muito recentemente apresentou, em Caminha, sob patrocínio da Câmara Municipal, uma colecção de pinturas arquitectónicas dedicadas à vila que outrora foi cabeça de ducado.

Entretanto, Araújo Soares prevê para os próximos meses um calendário apertado, que o levará a expor na Madeira, no Fórum Picoas de Lisboa e em S. Diego da Califórnia. «São convites de grande responsabilidade, que não me obrigarão a trabalhar mais, porque isso é impossível, mas sim com mais cuidado, sobretudo na contínua experimentação técnica e na pesquisa temática», afirma o artista, homem que é sempre de poucas falas.

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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