Rúben Brandão

Rúben Brandão


 

 

PRINCESAS DO LIMA

 

Quando ao sol-pôr, no colo do teu Lima,

fechas os olhos para adormecer,

fico tão mudo que nem sei sequer

compor uns versos e soprar-lhes rima!

 

Um rio azul em curvas amorosas!

A Ponte! A “Avenida velha”! O Passeio!

E o casario, qual rosto no meio

de duas tranças verdes e frondosas!

 

Com a Madalena (donde se desfruta

um panorama que já fez pasmar

o próprio autor, vê lá!, o próprio Deus)

 

ó minha terra, sem exagerar,

no mundo inteiro – crê – ninguém disputa

a não ser Viana os predicados teus!

 

In:

Jornal Cardeal Saraiva,  de 8 de Novembro de 1968

LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 25, de Dezembro de 2011

Rúben Brandão – Quadras e Outras Poesias, 2017

 

 

 

 

NASCI À BEIRA DE UM CERTO RIO

 

Nasci à beira de um certo rio

(ai, a saudade que me atormenta!)

contra este facto, contra este brio

que outro rio contra-argumenta?

 

Junto de um rio é que eu cresci,

nas suas margens bebi-lhe a infância;

possa meu corpo estar à distância,

nunca minha alma saiu daqui.

 

Nascer à beira do rio Lima,

ter suas margens por longo sonho,

é tão real que é pobre a rima,

o verso, a quadra que lhe componho!

 

Nascer à beira do rio Lima,

Só esta sorte faz-nos poetas:

É-se poeta mesmo sem rima

Emparelhada pelas “selectas”.

 

E ser poeta é ver um rio

com estes olhos que Deus nos deu:

águas que cantam, ao desafio,

quadras de amor à cor do céu!

 

Nascer à beira do rio Lima,

dá-me vontade de perguntar

à amiga Morte se tem, lá em cima,

um rio assim para eu brincar.

 

In:

LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 25, de Dezembro de 2011

Rúben Brandão – Quadras e Outras Poesias, 2017

 

 

 

 

QUADRAS A PONTE DE LIMA

 

Minha terra abençoada

por um deus cheio de brio

é um cisne que se retrata

nas águas calmas do rio.

 

Na serra d’Arga à tardinha

virei-me para nascente:

e mesmo em frente o que tinha?

Minha terra sorridente!

 

Quem me dera ser pintor

Mas que fosse genial

Para misturar luz e cor

Da minha terra natal.

 

Cantadores ao desafio

bem haja quem assim canta

seja à beleza de um rio

seja ao milagre da santa!

 

Do alto da serra d’Arga

olhei o vale do Lima

minha memória me guarda

o que filtrou a retina.

 

Santo Ovídio, Boa Morte,

rio Lima… É o meu olhar

humedecido da sorte

de nascer neste lugar!

 

Minha terra, minha gente

onde me sinto tão bem;

minha terra é bem diferente

de quantas o mundo tem!

 

Grande riqueza é ter paz

acordar manhãs a fio

com a calma que nos traz

a água de um certo rio…

 

vim de novo à serra d’Arga

virei-me para nascente:

Ponte de Lima brincava

Com o rio, alegremente.

 

“Não vais ter o Paraíso”

disse-me Deus lá de cima.

– Não faz mal, eu não preciso:

nasci em Ponte de Lima.

 

In: Rúben Brandão – Quadras e Outras Poesias, 2017

 

 

 

SERRA D’ARGA

 

Fui lá acima numa tarde,

àquela nua aspereza;

segui c’os olhos meu Lima

e de novo achei que a rima,

a música, ideia ou graça,

qualquer delas é escassa

para tamanha beleza!

 

Serra d’Arga vou-me embora

pois já vi maravilhado

lindo rio enamorado

duma vila encantadora!

 

Fui uma tarde lá acima

e ao ver Ponte de Lima

parecia-me tão à beira

que disse na brincadeira:

Quero dar-lhe um grande abraço!

 

Serra d’Arga vou-me embora

pois já vi maravilhado

lindo rio enamorado

duma vila encantadora!

 

Estive um pedaço…

Preso às margens deste rio,

tarde e mal reflecti

que o vento soprava frio.

Pois mais forte inda soprasse

que ele próprio me trazia,

a não ser que ao ver de perto

esta luz, todo este encanto,

encandecesse e caísse

e, ai Jesus, nunca mais visse

a terra que amo tanto!

 

Serra d’Arga vou-me embora

pois já vi maravilhado

lindo rio enamorado

duma vila encantadora!

 

In:

Jornal Cardeal Saraiva, de 8 de Abril de 1968

Rúben Brandão – Quadras e Outras Poesias, 2017

 

 

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Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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