João Hilário Lima

 
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João Hilário Lima


 

João Hilário Lima – João Hilário Gonçalves Lima – nasceu a 2 de Novembro de 1948, na freguesia da Facha, concelho de Ponte de Lima.

É filho de lavradores, autodidacta, tendo como habilitações literárias a 4.ª classe.

Aos 18 anos emigrou “a salto” para França, onde permaneceu durante dois anos, findos os quais se apresentou, voluntariamente, para cumprir o serviço militar.

Assentou praça no Quartel de Vila Real R. I. 13, em 5 de maio de 1969, e fez a especialidade de Transmissões no B. C. 5, em Campolide, Lisboa.

Foi mobilizado pelo R. A. P. 2, na Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, e integrado no Batalhão de Artilharia 2901, seguindo-se a formação de aptidão (I. A. O.), em Viana do Castelo.

Embarcou para a então província ultramarina de Moçambique, com destino a Cabo Delgado, em 5 de Janeiro de 1970.

Graduado 1.º Cabo, exerceu funções na Arma de Transmissões, tendo permanecido em Moçambique durante 26 meses, em comissão militar.

Em Abril de 2014 publicou Memórias de uma Guerra – Moçambique 1970/72, obra editada pelo Centro de Estudos Regionais de Viana do Castelo, que apresenta em verso a narrativa completa (preparação, viagens, tempo de missão e regresso) da sua mobilização para a guerra em Moçambique.

 

Bibliografia


Memórias de uma Guerra – Moçambique 1970/72

João Hilário Lima, à semelhança de homens da sua geração, conheceu o travo amargo da guerra. Por isso, fala na primeira pessoa da pulsão destruidora, da brutalidade e da iminência da morte. Experiência intensa, a guerra acode continuamente à sua memória e, como se já não coubesse dentro do seu ser, verte-se em poemas. O livro, mais do que um repositório de saudade ou de pranto, é um exercício de catarse. O autor, apoderado pela memória do soldado sem apresto que foi desapropriado da sua rotina quotidiana no Alto Minho e obrigado à imersão num cenário daninho e cruel, algures em Moçambique, retrata a participação num conflito que não entende. Dessa experiência febril e neurótica, que esgotou a sua juventude, partilha fragmentos quer em versos quer em imagens interiorizadas. Memórias de uma Guerra reconforta o autor, como outrora o fizeram a fotografia da família e as missivas trocadas. Escavados os estratos mais profundos da memoração, o livro é um hino à vida, plena de conteúdo, e um contributo para a memória coletiva da Guerra Colonial.
José Carlos Loureiro.


 

Poema “Aquele Adeus”, Memórias de uma Guerra, pág. 23

 

O domingo parecia festivo,

O povo veio dizer-nos adeus!

Num semblante pesado e comovido,

Dizia tristemente… ide com Deus!

 

Viana, emocionada, viu-nos partir

E o comboio a Lisboa nos levou.

Cais de Alcântara, no dia a seguir,

De lá todo o contingente embarcou.

 

E, naquele adeus, deixámos Lisboa!...

Pais, esposas, namoradas choraram.

Soluçar profundo, dor que magoa,

Lenços brancos a acenar lá ficaram.

 

As tristes buzinas anunciavam,

O momento eminente da partida.

As amarras do cais se largavam,

Zarpava para os destinos da vida.

 

 

 

Nota

Depois de ter sido apresentada na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, em 12 de Abril de 2014, a obra Memórias de uma Guerra – Moçambique 1970/72, do limiano João Hilário Lima, foi apresentada na Casa do Concelho de Ponte de Lima, em Lisboa, no dia 14 de Junho do mesmo ano, numa sessão que contou com a presença de elevado número de associados e de convidados, entre os quais se encontravam diversos Oficiais Superiores do Exército Português.

Para a apresentação da obra foi convidado o Dr. António Manuel Salavessa da Costa, licenciado em Ciências Militares, que foi membro do Governo de Macau de 1991 a Dezembro de 1999, onde exerceu as funções de Secretário-Adjunto para a Comunicação, Turismo e Cultura.

A sessão foi aberta pelo então Presidente da Direcção da Casa do Concelho de Ponte de Lima, Victor Castro, que enalteceu o sentido de responsabilidade e o patriotismo de João Hilário Lima que, apesar de se encontrar a viver em França, regressou a Portugal para cumprir o seu dever militar para com o País, ao contrário de tantos outros que fizeram o trajecto inverso, fugindo às suas responsabilidades militares.

Seguiu-se uma breve intervenção pelo Dr. Mário Leitão, autor do posfácio do livro, que apresentou João Hilário Lima como “homem do povo, simples e modesto, pessoa de honra e de carácter”, que ousou “pisar o terreno da cultura” através desta magnífica obra poética.

Terminada a apresentação do livro pelo ilustre convidado, a Actriz Cecília Guimarães, que honrou uma vez mais a Casa do Concelho de Ponte de Lima com a sua presença, deu voz, juntamente com a associada da CCPL Irene Vieira Rua, a alguns dos poemas desta obra.

Visivelmente emocionado, João Hilário Lima agradeceu a todos quantos participaram e tornaram possível a apresentação da obra na Casa do Concelho de Ponte de Lima, em Lisboa, nomeadamente ao Coronel António Ferreira da Silva, seu Comandante de Batalhão em Moçambique, igualmente presente. Referiu-se ainda à sua participação na Guerra do Ultramar, que esteve na origem deste livro, e considerou que, com ele, conseguiu exorcizar o que ainda havia dentro si.

A sessão terminou em festa, com mais uma animada actuação do Rancho Folclórico da Casa do Concelho de Ponte de Lima.

José Pereira Fernandes

 

 

Fotografias: Elisa Prego

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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