António Correia Pinto de Macedo

 

António Correia Pinto de Macedo


Importante Correlhanense do século XVIII (1719-1783), que se notabilizou no Brasil como bandeirante, sertanista, fazendeiro e fundador da cidade de Lages



Manuel da Fonte Rodrigues Alves



No dia 12 de junho de 1719, no lugar do Paço da freguesia da Correlhã, Ponte de Lima, nasceu uma criança do sexo masculino que veio a ter um futuro repleto de aventuras. Pelo assento de batismo existente no Arquivo Distrital de Viana do Castelo, documentado na imagem abaixo reproduzida, pode lêr-se:

“António, filho de Luiz Correa do lugar do Paço e de sua mulher Antónia de Souza, nesta freguesia aos doze dias do mês de Junho do ano de mil setecentos e dezanove. Foi por mim baptizado… dezassete dias do mesmo mês e ano…”.



 

Assento de batismo de
António Correia Pinto de Macedo
nascido na freguesia da Correlhã
em 12 de Junho de 1719

 



Como tantos outros, António viajou para o Brasil, onde se dedicou a diversas actividades, tendo tido enorme sucesso na fundação de fazendas e sido um dos grandes desbravadores do Brasil. Em reconhecimento pelas suas importantes contribuições, recebeu diversos galardões, tendo sido nomeado Capitão-mor Regente da região de Curitiva.

Embora não seja muito conhecido na sua terra natal, foi uma personalidade de grande importunância no Brasil.

Devido à da sua atividade de fazendeiro, viajou por diversas localidades, e dado o seu prestígio, foi nomeado pelo governador do Estado de S. Paulo para, numa determinada região, fundar um povoado, local que veio a tornar-se vila e, mais tarde, a cidade de Lages.

Na Edição Histórica da Revista Visão, de Novembro de 2016, comemorativa dos 250 anos da fundação da cidade de Lages, é dado grande destaque a este Correlhanense, num artigo intitulado “O Fundador”.

 

Artigo que evoca António Correia Pinto de Macedo, publicado na Edição Histórica da Revista Visão, da cidade de Lages, Brasil, de Novembro de 2016


 

Transcrevemos o interessante texto:

«O Fundador

Antônio Corrêa Pinto de Macedo nasceu em Portugal, em 1719. Veio ao Brasil com 14 anos. Casou com 40. Chegou em Lages para fundar a cidade com 47. E morreu aqui, em 1783, com 64 anos, sem deixar filhos.

Lages foi fundada oficialmente em 22 de novembro de 1766 (há exatos 250 anos atrás). A data lembra o dia em que chegou à cidade o seu fundador, Antônio Corrêa Pinto de Macedo. O livro de Licurgo Costa, “O Continente das Lagens – Vol. 1”, citado na obra “ACIL e seu compromisso com a Serra Catarinense”, publicado no ano 2000, conta, em sua página 17, como aconteceu:

“Por ato de 9 de julho de 1766, Dom Luiz Antônio de Souza Botelho e Mourão, Governador e Capitão-General da Capitania de São Paulo, nomeou o sertanista Antônio Corrêa Pinto de Macedo, Capitão-Mor Regente do Sertão de Curitiba, com a incumbência de fundar no extremo Sul da Capitania uma póvoa que até pela sua própria existência desestimulasse os castelhanos (espanhóis) de tentarem, como vinham fazendo, invadir área pertencente a Portugal. A área em referência era a dos Campos das Lagens, por onde cruzava a Estrada dos Conventos, aberta por Francisco de Souza Faria e retificada por Cristóvão Pereira de Abreu (1), sendo entregue ao uso entre 1729 e 1730”, fecha o texto.

 Capitão-Mor já tinha fazendas em Lages

Antônio Corrêa Pinto, quando aqui chegou, veio “designado” pelo Governo de São Paulo para fundar uma “Póvoa” (povoado). E o objetivo era muito claro: ajudar a conter os castelhanos que poderiam se aventurar a tomar as terras portuguesas destas paragens. No entanto, ele tinha também outros interesses. Em publicação feita em um blog específico sobre a história de Lages, a estudiosa Tânia Arruda Kotchergenko conta que ao chegar aqui, Antônio Corrêa Pinto já tinha duas fazendas (uma em Vacaria e outra em Lages, a maior delas). Essas terras que ele acabou dono, provavelmente, em áreas devolutas.

Para fundar a Vila de Lages, Corrêa Pinto trouxe consigo muitos animais (cavalos e mulas), além de grande número de escravos (não encontramos em nenhum documento a quantidade exata de quantos seriam) e algumas famílias desbradoras. Ele tomou o cuidado de trazer com ele alguns pedreiros, carpinteiros, ferreiros e pelo menos um mestre de obras, Caetano Saldanha, além de inúmeros instrumentos de trabalho e ferramentas. “Lages, sobre a proteção da padroeira – Nossa Senhora dos Prazeres – começou no local Taipas, no qual havia uma igreja dos tropeiros. Logo foi abandonado aquele sítio, iniciando-se um núcleo de povoamento próximo ao Rio Canoas (hoje município de Correia Pinto). Somente em 22 de maio de 1771 foi fundada Lages no atual lugar onde se encontra”, cita um texto extraído da Wikipédia.

 Quem era Corrêa Pinto?

Quando chegou a Lages, em 22/11/1766, Antônio Corrêa Pinto de Macedo tinha 47 anos. Ele nasceu no interior de Portugal, no dia 12 de junho de 1719, filho de Luiz Corrêa Pinto e Antônia de Souza Macedo. Com 13 anos, mudou-se para Lisboa. Poucos meses depois, veio para o Brasil e foi morar com um tio na cidade do Rio de Janeiro. Com 14 anos, mudou-se para “as Minas Gerais”. Naquele período, aquela região do Brasil fervilhava de gente atrás da “febre do ouro”. E Côrrea Pinto, mesmo jovem, lidava como negociante de ouro e de prata. Aos 19 anos, mudou-se para São Paulo. E em seguida para Santos (viveu pouco tempo nessas cidades – sempre comercializando alguma coisa). E pouco tempo depois, em 1738, rumou para liderar várias campanhas na região de São Pedro do Rio Grande (RS).

No período de 1738 até 1759 – durante 21 anos – Corrêa Pinto passava o maior tempo nas terras do Rio Grande do Sul. E neste período, fez pelo menos três viagens a São Paulo negociando gado, cavalos e muares (virou tropeiro). Ele adquiria os animais do Rio Grande do Sul (região de Viamão ou nas reduções jesuíticas – gado criado pelos indígenas e pelos padres jesuítas). E transportava em tropas, passando por Lages e chegando a Sorocaba (SP), onde eram comercializados. Essas viagens, de acordo com os registos históricos, não demoravam menos do que 6 meses.

Casou com 40 anos

Em uma dessas viagens a São Paulo, no dia 26 de julho de 1759, ele casou com a jovem Maria Benta de Oliveira (os documentos não falam a idade – só citam que era menor). Foi na Vila de Santana de Parnaíba (próximo a São Paulo). Na época (quando casou), Antônio Corrêa Pinto tinha 40 anos de idade. E quando chegou em Lages, sete anos depois, estava com 47.

A viagem que ele fez de São Paulo (quando foi nomeado Capitão-Mor) até Lages, demorou pelo menos quatro meses para ser realizada.

 A Vila de Lages começou em 1740

O historiador Licurgo Costa diz que Lages começou a ser povoada porque era caminho de parada e de descanso das tropas. Vindo do Rio Grande do Sul, esses animais se desgastavam muito com o deslocamento. E precisavam parar algum tempo para se recuperar, o que podia levar até seis meses já que Lages tinha ótimas pastagens. Nessas paradas, os tropeiros por aqui permaneciam. E alguns até se arriscavam a vender alguns animais para quem vinha comprá-los antes mesmo de sua chegada a Sorocaba.

Então, Lages começou a ser estabelecida a partir de 1740, de acordo com esses relatos. E, aos poucos, além da pequena feira de animais, também foram sendo criados alguns comércios. Logo que chegou a Lages, com a esposa, muitos escravos e algumas famílias (que também foram legalizando terras devolutas para elas próprias), Corrêa Pinto implantou por aqui um moinho de fubá (farinha de milho), uma ferraria e uma olaria.

 Viveu apenas 17 anos na cidade

Antônio Corrêa Pinto viveu apenas 17 anos em Lages. Ele morreu no dia 28 de setembro de 1783, aos 64 anos. Deixou a esposa Maria Benta de Oliveira como viúva. E nenhum filho como herdeiro. Os bens que possuía deixou em testamento à viúva, com ressalva explícita. Se ela casasse novamente (o que acabou acontecendo visto que era muito mais nova do que ele), deveria deixar metade de seus bens com as irmãs dele, ou com os sobrinhos (filhos da irmãs). E a outra metade poderia usufruir.

O fundador de Lages foi sepultado no dia 29 de setembro de 1783, na Vila de Lages. E seu corpo foi enterrado na igrejinha da época, “acima do arco e ao pé dos degraus do presbitério”, cita o livro de Licurgo Costa. Seus restos mortais estão hoje depositados na Catedral da cidade, juntamente com os restos mortais de Frei Lother (que começou a construção da Catedral).

Em homenagem ao fundador da cidade – um desbravador – há vários símbolos que lembram o seu nome. O primeiro deles é a cidade e o município de Correia Pinto, onde ele se teria estabelecido para iniciar a construção da cidade (às margens do Rio Canoas). Há também uma estátua em bronze, no início da Rua Correia Pinto (com três metros de altura e pesando 500 kg), implantada no local no dia 22/11/1966 (quando Lages completou 200 anos de fundação). E a própria rua em sua homenagem, no centro da cidade, além da denominação do aeródromo da cidade – que leva o nome de “Aeroporto Federal Antônio Corrêa Pinto de Macedo”.»

 

Para além do texto que acabamos de transcrever, existem mais referências a Correia Pinto na mesma revista.

Como é ali referido, existe também no Brasil o município de Correia Pinto. No respectivo site, na História Geral do Município, refere-se que “Correia Pinto foi Fundado por Antônio Correia Pinto de Macedo, que recebeu a incumbência de formar um povoado às margens do Rio Canoas ou Pelotas por serem caudalosos, rápidos e abundantes de peixe, preservando o domínio castelhano e demarcando a ocupação portuguesa…”.

Existe igualmente muita literatura acerca de António Correia Pinto de Macedo e existem em sua honra, como vimos, os municípios de Lages e Correia Pinto. A distância entre as duas cidades, localizadas no Estado de Santa Catarina, é de 25 km, ficando estas a cerca de 600 km da cidade de S. Paulo.

Pormenor interessante é ser o Município de Lages considerado o berço do turismo rural no Brasil e ter Ponte de Lima a Central Nacional do Turismo no Espaço Rural – TURIHAB.

A ligação da Correlhã através da personalidade de Correia Pinto simboliza a amizade entre Portugal e o Brasil, país que acolheu tantos correlhanenses.

Comemorando-se este ano os 300 anos do seu nascimento, aqui fica uma pequena homenagem e recordação a tão grande personalidade Correlhanense no Brasil.

 

Notas:

(1) Figura proeminente na história do Sul Brasileiro, Cristóvão Pereira de Abreu nasceu na freguesia de Fontão, em Ponte de Lima, em 13 de julho de 1678, e faleceu na vila de Rio Grande, Brasil, em 22 de novembro de 1755 (“Figuras Limianas” – Edição do Município de Ponte de Lima, 2008).

Artigo publicado na revista “O Anunciador das Feiras Novas” de 2019, páginas 133 a 137, complementado com novas imagens.

Vídeo

Mensagem do Prefeito Municipal de Lages, António Ceron, dirigida à população da freguesia da Correlhã


Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

Sugestões