Francisco Maia de Abreu de Lima

 

Francisco Maia de Abreu de Lima


Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, de 1986 a 1990

 



Luís Nogueira de Brito



 Não posso dizer que conheço desde sempre o homenageado.

Desde logo, porque eu nasci e fui criado em Barcelos, embora com os avós paternos e maternos a curta distância, em Ponte de Lima, enquanto que o Dr. Francisco Maia de Abreu de Lima suponho que foi criado em Ponte de Lima, mais precisamente em Além da Ponte, na Casa do Antepaço.

Depois, porque “sempre” significa, neste caso, cerca de quatro anos, os correspondentes à diferença de idades que vai dele – o mais velho – para mim – o mais novo.

É certo que quatro anos, na nossa idade actual, não são nada, ou quase nada.

Mas não era assim quando éramos mais novos, muito mais novos…

Quer dizer que quando ele tinha já dezasseis anos, eu tinha onze ou doze, o que era muito, ou, pelo menos, significativo.

Tanto, que era o suficiente para não pertencermos ao mesmo grupo de brincadeira, mas a grupos diferentes: “eles”, mais velhos, ou, na nossa perspetiva de então, muito mais velhos, em que se incluía o “Xico Abreu”, e nós, mais novos, a que eu pertencia. Com alguma inveja, confesso… mas as coisas são como são e uma delas é a idade como um dos critérios de pertença ou não aos diversos grupos de rapazes.

Portanto, o “nosso conhecimento” não data de tão longe (desde sempre), mas apenas do tempo em que, sendo ele um veterano da organização da célebre verbena de Ponte de Lima, eu era apenas um candidato a fazer parte de tal organização, facto que deu início à nossa amizade, amizade que se cimentou, em Coimbra, onde ambos frequentámos, na mesma faculdade, o Curso de Direito e em que, mais do que isso, fomos companheiros de casa durante um ano.

Ano que não esquecerei e que continua a ser o “alimento” por excelência de muitas das sessões de conversas recordatórias que estão na base e no topo da continuação da nossa amizade.

Essa a verdade que pode ser afirmada sem receio de contestação: não sendo conhecidos desde sempre, somos amigos de longa data, consolidados por laços fortes, a ponto de eu o considerar como um dos meus maiores amigos.

Aliás, sempre que venho a Ponte de Lima, o que faço com uma certa frequência, há encontro entre os dois casais. E aí começa a “converseta”, pontuada, confesso-o, por algumas tesouradas, mas tesouradas inocentes e que têm, pelo menos o mérito de me colocar a par das novidades limianas.

Mas é dele, do Xico Abreu, que me proponho falar e não de nós, sendo certo, porém, que esta curta digressão pela nossa história comum constitui, neste caso, uma espécie de declaração de interesses, ou seja, serve para afirmar que sou amigo do homenageado e para acrescentar a promessa de que isso não influenciará, de modo algum, tudo aquilo e é pouco, que aqui vou deixar dito sobre o meu amigo, Dr. Francisco Abreu Lima.

 

A homenagem

 

Ora, o homenageado é, sem a mínima dúvida, um homem de carácter, um homem que mostra o que é, mostra e explica, se tal for necessário.

Mais do que isso, porém: são várias as facetas do seu carácter, todas de sinal muito positivo, a saber:

- Grande disponibilidade para tratar dos assuntos dos outros, sempre se isso estiver ao seu alcance;

- Grande respeito pelo seu próximo e pela sua dignidade humana, que defende sempre que pressente que está a ser atingida;

- Simplicidade no trato e afabilidade nas relações com os seus semelhantes;

- Respeito pela família e pelas comunidades mais vastas em que se insere e em que decorre a sua vida;

- Respeito e amor à sua terra, Ponte do Lima, às suas terras e às suas gentes;

- Grande solidariedade para com os seus semelhantes.

Disse e repito, o assim retratado, Dr. Francisco Maia de Abreu de Lima, o meu amigo Xico, não estou certo que tenha nascido em Ponte de Lima, mas nasceu, sem dúvida, no seio de uma ilustre família limiana.

E mesmo que aqui não tenha nascido, a verdade é que aqui foi criado e frequentou o ensino primário, daqui tendo partido para a Universidade de Coimbra, para tirar o Curso de Direito.

 

A vida profissional

Concluída tal licenciatura, rumou a Lisboa onde assentou o seu lar, constituído na base do casamento com uma beleza limiana de gema, a Nina, e acrescentado com o nascimento de três filhos.

Iniciou, então, a sua vida profissional, no âmbito do Ministério das Corporações e Previdência Social, mais precisamente como Secretário do respectivo Ministro.

Até que chegou 1974 e, em 25 de Abril, muita coisa mudou, incluindo a vida profissional do Dr. Abreu Lima, que passou a ser feita no sector privado, numa importante empresa, fabricante de produtos para a agricultura.

Decorridos uns anos, voltou, porém, a Ponte de Lima onde foi eleito Presidente da Câmara Municipal, à frente de uma lista apresentada a sufrágio e cujo mandato decorreu de 1986 a 1990.

Neste último ano foi designado para o cargo de Presidente da Direcção do Centro Regional da Segurança Social de Viana do Castelo.

Cargos estes (a Presidência da Câmara Municipal da nossa terra e a Direcção do Centro Regional da Segurança Social do nosso distrito) para os quais o passado profissional do Dr. Francisco Abreu Lima constituía uma excelente preparação.

Com efeito, o Dr. Francisco Abreu Lima começou a sua vida no âmbito da organização da Previdência Social, em estruturas que precederam aquilo que hoje é a organização da Segurança Social.

E que constituíram, também, uma boa preparação para as funções correspondentes ao exercício da Presidência da Câmara, sabido como é que a esta cabem, hoje, competências várias, na área social.

Preparação tanto mais adequada quando combinada com as facetas importantes do carácter do homenageado, acima devidamente destacadas.

Pode, por isso, dizer-se que o passado, tal como o viveu o homenageado, no âmbito da, então, designada previdência social, associado às especificidades do seu carácter, contribuíram, sem dúvida, para a sua integração no grupo dos que alinhavam no sentido de evitar que a segurança social funcionasse com a lógica fria de uma estrutura burocrática dominada por uma predominante preocupação de natureza financeira.

Quero com isto dizer que o Dr. Abreu Lima, apesar do rigor com que interpretava e aplicava as leis que constituíam a moldura delimitadora das competências cuja implementação lhe foi, mais do que uma vez, confiada, nunca deixou de considerar que, acima de tudo, estavam as pessoas, revestidas de uma dignidade humana que era necessário respeitar e defender, pessoas que eram os destinatários últimos das normas de cuja aplicação se tratava e trata.

É, pois, este, em traços breves, o retrato do homenageado, enquanto funcionário público, no contexto da previdência e da segurança social.

 

Presidência da Câmara

 

Mas o Dr. Abreu Lima foi também Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima e vereador no órgão de gestão do Concelho.

Desempenhou as respectivas funções, sempre norteado pelo espírito de servir e obedecendo a um mesmo propósito: defender Ponte de Lima e as suas gentes.

Tal foi possível porque, em ambas as situações, o Dr. Abreu Lima concorreu às eleições como independente, livre, portanto, de qualquer obediência a credos partidários ou outros.

Tanto assim que, ultrapassado o momento eleitoral, o Dr. Abreu Lima pôs sempre os seus préstimos nas mãos dos eleitos para servir os interesses de Ponte de Lima, da sua terra.

Respeito e servir o próximo é, sem dúvida, a faceta que mais se destaca no elenco das várias que formam o carácter do Dr. Abreu Lima. Pode, pois, dizer-se que o cumprimento do II Mandamento é o “farol que ilumina” o percurso percorrido pelo ora homenageado, no exercício das várias funções que exerceu na sua vida pessoal e profissional.

O serviço ao próximo e a disponibilidade para o cumprir são imagens de marca do homenageado.

Quantas pessoas, em Ponte de Lima e fora de Ponte de Lima, não terão sido atendidas pelo Dr. Abreu Lima para resolver problemas da sua vida pessoal e profissional? Muitas, estou certo.

Comigo mesmo passou-se um caso que pode considerar-se paradigmático.

Em vésperas de terminar a minha licenciatura, na Faculdade de Direito de Coimbra, (faltavam-me duas cadeiras), fui surpreendido por uma carta que me chamava para cumprir os meus deveres militares. O caso era grave e o respectivo procedimento desrespeitava o disposto na Lei que permitia, em casos como o meu, só prestar o serviço militar depois de concluído o curso.

Ora, o chamamento que me era feito tornava isso mesmo impossível. Mas quem me poderia auxiliar, naquele momento de aflição? A quem recorrer? Ao Xico Abreu, é claro.

Foi o que fiz e fi-lo em boa hora. O assunto, devidamente encaminhado, foi resolvido com a atribuição de uma licença graciosa que me permitiu sair de Mafra e concluir as duas cadeiras finais do Curso, e depois prestar, a seu tempo, o serviço militar a que estava obrigado.

Quer dizer: o homenageado era, além do mais, um autêntico procurador em Lisboa dos seus conterrâneos da província que sabiam que ali, naquela pessoa, residia um esteio seguro, um verdadeiro representante dos seus legítimos, mas desprotegidos interesses.

Cabe, pois, dizer que, ao editar-se esta revista, está a ser feita justiça a um homem bom, respeitador e dedicado aos seus semelhantes, inteiramente dedicado à sua terra.

Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 40, de Dezembro de 2014

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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