São Cristóvão

 

São Cristóvão

Escultura em pedra policromada - Século XVII-XVIII
Capela de São Cristóvão, Fontão

 



José Velho Dantas



São Cristóvão é um daqueles santos lendários mas de tradição imorredoira. Terá sido forjado num daqueles acidentes linguísticos tão típicos da Idade Média, em que, por vezes, a etimologia dava origem a uma lenda. A palavra grega Christoforos, de sentido espiritual, significando literalmente aquele que transporta Cristo (transportar no coração, entenda-se, aplicando-se no fundo a todos aqueles que aderiam à mensagem de Cristo), deu origem ou passou a ser entendida, de modo mais palpável, como uma personagem que transportava Cristo (segundo a lenda, mais concretamente, transportou o Menino Jesus aos ombros na travessia de um rio).

Foi desde sempre invocado pelos andarilhos e viajantes que nas suas viagens e peregrinações eram forçados a cruzar os cursos fluviais. Por outro lado, acreditava-se que, tal como Santa Bárbara, tinha o condão de afastar a morte súbita, sem confissão, que aterrorizava os crentes. Para quem estivesse em viagem, a visão de uma imagem de São Cristóvão afastava esse perigo sempre à espreita na curva da estrada. Era também este poder que, segundo Louis Réau, investigador francês e fonte inesgotável para o conhecimento da iconografia da arte cristã, justificava o número prodigioso de imagens descomunais do santo, pintadas ou esculpidas, colocadas nas fachadas ou às entradas das igrejas ou das povoações, geralmente em locais bem visíveis e de fácil acesso, para que não fosse necessário perder muito tempo a avistá-las. E muitas mais teriam chegado aos dias de hoje caso se tivesse evitado a sanha persecutória que atingiu estas imagens depois do Concílio de Trento e da Contra-Reforma.

Alguém que transporta o Salvador do Mundo, o Imperador das Nações, não pode ser concebido senão como um gigante. O aspecto colossal, descomunal, com que costuma ser figurado, ficando muito a dever à estética e à ideia de um físico bem proporcionado, não deixou todavia de acumular pontos junto da piedade popular.

Em território de Ponte de Lima estão dedicadas a este santo a Igreja Paroquial da Labruja, a Capela de São Cristóvão dos Milagres, em Freixo, e a capela em Fontão onde é venerada a imagem apresentada nesta página. Existe uma pintura mural retratando o santo numa das paredes da nave da vetusta Capela de Santa Eulália, em Refóios, talvez a mais antiga representação conhecida. Na vila, uma “milagrosa imagem” de vestir costumava incorporar a procissão do Corpus Christi que saía pelas ruas da vila, sempre transportada num andor que levavam os barqueiros da vila e do Termo de Ponte de Lima. Estava “desde tempos imemoriais” na Capela de Nossa Senhora da Penha de França, num nicho embutido na parede, adequado à sua dimensão, até que foi transferida em 1843 para a Igreja Matriz, facto que motivou um libelo entre os mesários da Irmandade da Senhora da Penha e os mesários da Confraria de Nossa Senhora da Assunção. A mencionada imagem de roca, actualmente à guarda do Museu dos Terceiros, foi entretanto substituída pela escultura em granito que hoje se pode observar no templo principal da vila.

A imagem aqui documentada fotograficamente é a titular da Capela de São Cristóvão, em Fontão. Ao centro de um curioso retábulo em pedra, animado por colunas e arquivoltas torsas, surge, no mesmo material, esta imagem bastante vívida e colorida do santo, que o exibe, como é timbre, barbudo, de grande estatura, trazendo o Menino sobre o ombro e segurando o bordão (tronco de árvore). Constitui porventura a mais graciosa representação de São Cristóvão em terras de Ponte de Lima.

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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