No ano de 1832, com 14 anos de idade, parte para o Brasil Domingos Rodrigues Alves, do lugar de Silveiro, Freguesia da Correlhã, Concelho de Ponte de Lima.
“Partindo de Ponte de Lima e Correlhã, lugares abençoados, que o destinaram ao Brasil”…
SOBRINHO, Alves Motta - Sesquicentenário de Rodrigues Alves. Academia Paulista de História, 1998
Enfrentando com tenacidade as dificuldades iniciais, apesar de ser ainda um jovem adolescente, começa uma vida de trabalho duro, como tantos portugueses, que por aquela época procuravam longe as oportunidades que por cá escasseavam.
Fruto de uma invulgar capacidade para o negócio, cedo entra na área da panificação, onde vem a obter grande sucesso.
Casa em Guaratinguetá com Isabel Perpétua de Marins, oriunda de uma família tradicional da região. Deste casamento nascem 13 filhos, de entre eles, Francisco de Paula, que vem a ser Presidente da República do Brasil.
Francisco de Paula Rodrigues Alves nasceu na fazenda de Pinheiro Velho, pertencente a seu avô materno, no Município de Guaratinguetá, no vale do Paraíba, Estado de S. Paulo, em 7 de julho de 1848. Foi advogado, político brasileiro, Vereador, Deputado, Conselheiro do Império, Presidente da província de São Paulo, Presidente do Estado, Ministro da Fazenda, Senador e Presidente da República do Brasil.
Francisco de Paula Rodrigues Alves, “com apenas 11 anos, foi para o Rio de Janeiro onde frequentou o Colégio D. Pedro II, destacando-se desde muito cedo entre os melhores (…) Em 15 de Novembro de 1902, foi eleito Presidente da República do Brasil, desempenhando esse cargo até 1906. Após o período presidencial, governou o estado de S. Paulo, entre 1912 e 1916. Em 1918, acabou por ser eleito novamente para a Presidência de República, função que não chegou a assumir por impedimento da sua saúde.”
ESTEVES, Alexandra – Presidente Francisco Paula Rodrigues Alves. In Figuras Limianas. Ponte de Lima, 2008. ISBN 978-8846-15-2. p. 249
No dia 29 de outubro de 1908, o Presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves visita Ponte de Lima, com a intenção de conhecer a Correlhã, aldeia onde seu pai nasceu, e abraçar os familiares que ali viviam. Recebido com todas as honras pelas autoridades e população, que não se cansaram de aplaudir o ilustre visitante, um desagradável temporal não permitiu a tão desejada visita à Correlhã. Apesar desse contratempo, o Presidente Rodrigues Alves não deixou de ter um emocionante encontro com os seus familiares no Palacete Villa Moraes, em Ponte de Lima.
“À chegada a casa do Sr. João Moraes (Villa Moraes) começou a trovejar e caiu uma conta de água, continuando a chover durante a tarde, o que impediu o Sr. Dr. Rodrigues Alves de ir visitar os seus parentes, como muito desejava, à próxima freguesia da Correlhã, os quais já o esperavam lá e também aqui na vila. Porém, como Sua Ex.ª manifestasse vontade de os ver, foi Monsenhor Pereira Lima, digno prior da vila, em automóvel, chamá-los. E não se fizeram esperar, sendo apresentados ao Sr. Dr. Rodrigues Alves, que os recebeu com afectuoso carinho numa das salas da casa, o que comoveu algumas das pessoas que ali se encontravam e que isto presenciaram.”
Jornal O Commercio do Lima, n.º 116, de 31.10.1908
Francisco de Paula Rodrigues Alves faleceu no Rio de Janeiro a 16 de janeiro de 1919, vítima de doença.
Em tributo a esta ilustre figura, de ascendência limiana, foi dado o seu nome a uma das artérias da Freguesia da Correlhã.
Em 1908, a Câmara Municipal de Ponte de Lima já tinha atribuído o seu nome a um importante Largo da vila de Ponte de Lima – Largo Dr. Rodrigues Alves, que é hoje Largo Dr. António de Magalhães – mas que infelizmente desapareceu.
“Em homenagem ao seu nome prestigioso e merecimentos anteriores de que o Concelho tem razões para se orgulhar, propunha que o actual Campo dos Touros passe a denominar-se Largo Dr. Rodrigues Alves, proposta esta que a Câmara unanimemente aprovou, tendo resolvido mais, dar conhecimento a sua excelência desta deliberação.”
Acta da Câmara Municipal de Ponte de Lima de 7.01.1908
Este distinto estadista foi de tal forma respeitado que são incontáveis as homenagens à sua memória. Serão muito poucos os políticos que deixaram a sua acção perpetuada com tanta grandeza.
No Brasil o seu nome foi eleito para designar escolas, museus, ruas, praças e estátuas.
Mas o que mais emociona é terem denominado duas importantes localidades com o seu nome – Município Presidente Alves, no Estado de São Paulo, e Município Rodrigues Alves, no Estado do Acre. Na sua cidade natal, em Guaratinguetá, foi erigida uma imponente estátua em sua honra.
A Junta de Freguesia de Correlhã, por ocasião do centenário do seu falecimento, precisamente no dia 16 de janeiro de 2019, prestou-lhe homenagem através do descerramento de uma placa no jardim público confinante com a rua que tem o seu nome, junto ao largo do Silveiro, cerimónia que contou com a presença de um número inesperado de pessoas.
Na opinião da Presidente da Junta de Freguesia, este singelo, mas nobre momento para a Correlhã, teve sentido na medida em que realça a ligação da Correlhã a tão importante personalidade, e porque esta homenagem também simboliza a amizade entre Portugal e o Brasil, país que acolheu tantos Correlhanenses. Acrescentou entender este momento, também, como uma homenagem a todos os emigrantes, aqueles que tiveram sucesso, mas também aos que as coisas não correram tão bem e até nunca regressaram à sua terra natal.
Texto:
Manuel da Fonte Rodrigues Alves
Amândio de Sousa Vieira
