Os Serviços de Bibliotecas da Fundação Calouste Gulbenkian e Eu, por António Manuel Couto Viana

 

Os Serviços de Bibliotecas da Fundação Calouste Gulbenkian e Eu, por António Manuel Couto Viana



António Manuel Couto Viana



Calouste Gulbenkian descendia de uma família nobre da velha Arménia, tendo os Príncipes de Rechdouni como antepassados.

Nasceu na Calcedónia (Istambul), a 23 de Março de 1869, formando-se em engenharia em Londres. Durante a 1.ª Grande Guerra é Representante Comercial e Diplomático da Pérsia em Paris.

Aos 22 anos visita os campos petrolíferos de Bakou, na Transcaucásia. Sobre eles escreve um livro que alertou o ministro otomano das Minas para o interesse do oiro negro na economia mundial.

A partir daqui envolve-se no negócio do petróleo no Médio Oriente, acabando por auferir 5% da produção das grandes companhias que procediam à sua exploração. Daí passar a ser apodado do “Senhor cinco por cento”.

Dono de uma imensa fortuna, deu largas ao seu gosto de coleccionador d’arte, sobretudo, no que respeita à numismática.

Durante a 2.ª Grande Guerra Mundial, visita o nosso país, e, seduzido pela sua tranquilidade e segurança política, decide permanecer aqui, durante 13 anos, havendo falecido em Lisboa, com 86 anos de idade, em 1955.

É em Portugal e para Portugal que cria a Fundação, que tem o seu nome, onde inclui o seu precioso museu particular.

Em sede própria, a Fundação tem como objectivos, segundo o seu estatuto, acções caritativas, artísticas, educacionais e científicas, que vem servindo de maneira excepcional.

Entre as suas realizações culturais pode salientar-se a criação das Bibliotecas Itinerantes e Fixas, iniciada na Primavera de 1958.

Era seu propósito, brilhantemente alcançado, “transportar o livro a populações culturalmente isoladas”, “promover a leitura ao domicílio”, uma “boa leitura”, de obras técnicas, de ficção, poesia, teatro e ensaio.

Em 1961, o Dr. Azeredo Perdigão, presidente da Fundação, relatava: “Continuo a considerar o Serviço de Bibliotecas Itinerantes uma das mais felizes, se não a mais feliz, iniciativa da Fundação Gulbenkian”.

Quinze carrinhas transportavam, nos princípios do empreendimento, milhares de obras por todo o país, sofregamente requisitadas, especialmente, pela população escolar que ia, aí, encontrar complementos para os seus estudos e recreio. Em 1982, as bibliotecas eram já 62, geridas por pessoal especializado, que não só fornecia os livros ao requerente como o aconselhava na escolha, conforme as suas idades e preferências. De 1958 a 1990, as obras de literatura para crianças e adolescentes requisitadas somavam 99.156.606!

Inspectores, com o prestígio cultural por exemplo de Orlando Vitorino ou Armando Fernandes fiscalizavam estas actividades, mantendo-lhes a qualidade e a eficácia.

Uma Comissão de Leitura, presidida, no início, pelo escritor Branquinho da Fonseca, a quem se deve a estruturação dos Serviços, e constituída por vários vultos distintos da Literatura Portuguesa, estava encarregada de apreciar as obras remetidas pelas editoras para requisição e que iriam constituir o recheio de tais bibliotecas.

Quando, em 1989, o escritor Adolfo Simões Müller, literariamente responsabilizado, nessa Comissão, pela modalidade infanto-juvenil, faleceu, o então presidente da Comissão de Leitura, David Mourão-Ferreira, convida-me a substituí-lo.

Também eu escrevera alguns livros para crianças e adolescentes e havia feito parte da Campanha Nacional de Educação de Adultos, fundada por Veiga de Macedo, que, em 1952, mantinha bibliotecas específicas para os meios rurais, na semelhança das da Fundação.

Tive, então, por colegas, a romancista e poetisa Fernanda Botelho, que comigo alinhara nas minhas revistas Távola Redonda e Graal, o contista e ensaísta Luís Forjaz Trigueiros, tão enamorado de Ponte de Lima, o contista Mário Braga e o crítico e ensaísta Álvaro Salema, vianês ilustre e meu vago parente.

Reuníamo-nos todas as semanas, apresentando aos outros membros da Comissão os nossos pareceres sobre os livros requisitados, considerando-os, ou não, dignos de figurar nos escaparates das beneméritas Bibliotecas.

Eram reuniões que o David tornava o mais aprazíveis possível, onde dissertávamos sobre obras e autores trazidos a julgamento, bem como alguma recriativa “má-língua” crítica, sobre falsos ídolos…

Sobre a minha actividade e comportamento nessas reuniões fala David Mourão-Ferreira, na apresentação do meu livro de estudos e memórias Colegial de Letras e Lembranças (1994):

“Por consequência, e realmente, o título adequado a esta obra seria Mestre de Letras e Lembranças.

Mas há uma razão talvez para este pudico colegial, que é o da juventude, da extrema juventude de espírito que todo este livro manifesta e de que António Manuel Couto Viana nos dá provas, felizmente. Eu não posso dizer dia a dia, mas, no meu caso, semana a semana, porque tenho o gosto de o encontrar todas as semanas e de beneficiar desse tónico influxo de juventude do seu espírito.”

Os Serviços editavam um Boletim Cultural como auxiliar dos leitores, de que me coube a honra de organizar, por duas ocasiões: As Folhas de Poesia Távola Redonda (1988) e Tesouros de Teatro na Literatura Portuguesa para Crianças (1992).

Ao mesmo tempo, proferi conferências em várias Bibliotecas Fixas da Fundação, em Lamego, Trancoso, Abrantes, Mafra…, podendo, assim, avaliar, de perto, a organização, eficiência e frequência delas, sob a alçada das Câmaras Municipais.

Infelizmente, nunca me foi dado assistir à chegada das carrinhas a qualquer povoação perdida na província, o júbilo de quem a recebe, o entusiasmo da requisição e o gosto de ver os utentes, de livro debaixo do braço, a caminho da intimidade de um banco junto à lareira dos serões, para desvendar-lhe a diversão ou a sabedoria; ou, então, a folheá-lo sob a árvore copada, atento à leitura e à movimentação do rebanho na verdura do pasto.

Com o falecimento de David Mourão-Ferreira, foi substituí-lo Vasco Graça Moura e, quando este ocupou o lugar de eurodeputado, tive, por presidente, João Vieira e, hoje, Maria Helena Melim Borges. Porque, embora extintos os Serviços de Bibliotecas, continuo a pertencer a um Conselho de Leitura da Fundação, agora na Secção Ensino e Bolsas.

Do antigo grupo de escritores, restam Mário Braga e eu, tendo, por companheiros, Urbano Tavares Rodrigues e José Manuel Garcia.

E os nossos pareceres são diariamente transmitidos pela Antena 2, da Rádio Difusão Portuguesa, e, em seguida, disponíveis via Internet. Aí estão recolhidos mais de 700 verbetes da minha autoria!

(23.4.2008)

Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo  n.º 8, de Junho de 2008

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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