Homenagem promovida pela CCPL e pela LIMIANA - O Agradecimento de António Manuel Couto Viana

 

Homenagem promovida pela CCPL e pela LIMIANA - O Agradecimento de António Manuel Couto Viana

Intervenção de Couto Viana na sessão da homenagem que lhe foi promovida em Lisboa pela Casa do Concelho de Ponte de Lima e pela revista Limiana, em 17 de Abril de 2010

 

Já por quatro vezes Ponte de Lima decidiu enobrecer-me com lisonjeiras distinções.

A primeira, pela autoridade da sua Câmara Municipal, concedendo-me a medalha de Mérito Cultural.

A segunda e a terceira, pela Casa do Conselho de Ponte de Lima em Lisboa, em conjunto com a revista Limiana, a que me honro de dar colaboração.

Aconteceu a segunda no dia do meu 86º. aniversário, surpreendendo-me com um concerto do seu Grupo de Cavaquinhos, recordando-me o único instrumento que consegui tocar e a quem dediquei, até, uma poesia:

A minha mão espanhola

Trocou (pois nasceu no Minho)

Pandeireta e castanhola

Plas cordas de um cavaquinho.

 

Só sabe três posições

(Fraco jeito musical).

Se aprende, esquece as lições,

Nem o improviso lhe vale.

 

Mas entre o arrabil e a lira,

Em noites de serenata,

Se o amor inspira e expira

Nas cordas d’oiro e de prata,

 

A minha mão singular

Encontra sempre quem ame

Seu ingénuo dedilhar

As quatro cordas de arame.

 

Uma das intérpretes do grupo ainda me aconchegou ao peito a delicadeza de um cavaquinho, mas os meus dedos da velhice não conseguiram matar uma saudade das rusgas e tunas festivas em dia de romaria, quando o tringue-tringue do seu trinado convida ao alvoroço do vira.

E o grupo surpreendeu-me, também, com a leitura de alguns versos meus, evocadores da Ribeira-Lima.

Tempos depois, voltei a escutá-lo, quando, pela terceira vez, subi ao pódio pontelimês, tendo como pretexto o lançamento do meu livro de contos Que é que eu tenho, Maria Arnalda?, na presença do presidente da Casa do Concelho de Ponte de Lima, Senhor João Gonçalves e do Dr. José Pereira Fernandes, director da Limiana.

Falou, então, sobre o livro o meu caro Ricardo de Saavedra, num elogio desvanecedor.

Tarde inesquecível de convívio intelectual e artístico.

Convívio que se prolonga e se dilata aqui e agora, nesta quarta distinção, com a participação de três vozes que são tão caras à minha inteligência e à minha sensibilidade:

A de Cláudio Lima, poeta da estirpe dos maiores cantadores da nossa Ribeira, contista de garra e amigo como os que o são.

A de João Bigotte Chorão, a quem devo um sem número de comentários críticos, prefácios e posfácios à minha obra, saídos do primor da sua caneta culta e ática.

A de Artur Anselmo, que conheci jovem das minhas bandas, de quem acompanhei o desenvolvimento do seu talento raro, até à solidez académica, e que, em dada ocasião, me estudou a poesia, com exemplar sabedoria crítica.

Todos eles generosos em julgar-me a longa vida literária.

Bem hajam por isso.

A estas vozes peço vénia para juntar, no meu agradecimento, mais duas, mestras na interpretação de poesia, as de Cecília Guimarães e Vítor de Sousa, que souberam imprimir beleza aos meus versos.

Bem hajam, também.

E, finalmente, à Casa do Concelho de Ponte de Lima e à revista Limiana, nas pessoas ilustres do seu presidente e do seu director, respectivamente, quer pela grandiosidade do evento, quer pelo alto galardão que me é conferido, ao nomearem-me sócio honorário da prestigiosa agremiação regional, unindo o meu coração mais ainda àquela Ribeira-Lima que me habituei a amar, desde os 16 aos 23 anos de idade, em férias de encanto e paz, gozadas com a família na aldeia de São Martinho da Gandra, navegando e mergulhando num rio de lenda; envolvendo-me na azáfama alegre das vindimas; galopando aos ventos cálidos dos montes da Armada e Oral, na destreza do garrano limiano; mercando nas tendas do areal, nas manhãs buliçosas de feira na vila; bailando em festas de orago, nos terreiros dos santuários e capelas; nas noites sortílegas das Feiras Novas, estrondosas e brilhantes de foguetório, aquecendo, pelo remanso dos dias, ao

Sol dos meus verões

de adolescente feliz;

café no Largo Camões,

uma oração na Matriz,

e a busca de corações

que, no meu, ganhem raiz.

 

Ou, bem menos espiritual, mas igualmente apelativo, já o Outono a pedir o peso confortável da sustância alimentar, a busca da mesa que sirva o assombro do sarrabulho, num digno louvor ao animal mais prezado do alto-minhoto: o porco, com vossa licença!

Lembranças que o som nostálgico do cavaquinho sublinha como um canto de cigarra por entre milheirais de oiro.

Bem hajam, sobretudo.

Uma palavra, ainda, de gratidão, a todos quantos quiseram assistir a este instante emocionante da consagração do homem e do escritor.

 

Meus Senhores:

Tanta generosidade, tanto carinho, tanta estima, tanta consideração nestes momentos memoráveis, deixam que eu me interrogue, parafraseando o título daquele meu volume de contos:

– Que é que eu tenho, António Manuel?

António Manuel Couto Viana

Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 12, de Abril de 2009

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

Sugestões