Amândio de Sousa Vieira, um Grande Artista Limiano!

 

Amândio de Sousa Vieira, um Grande Artista Limiano!



José Aníbal Marinho Gomes



 Em 13 de Abril, publiquei no jornal O Povo do Lima um artigo intitulado “Amândio Vieira – Um grande artista limiano”, onde pretendi dar a conhecer a figura deste nosso amigo e ilustre limianista. Por falta de espaço e porque o biografado o merece, decidi reformular o referido artigo e dá-lo a conhecer a outro tipo de público, publicando-o, para isso, na revista Limiana e, ainda, enriquecê-lo com o fruto da sua arte – a fotografia.

Amândio Amorim de Sousa Vieira nasceu em Ponte de Lima, na rua do Arrabalde (Vasco da Gama) a 19 de Outubro de 1949.

Filho de Tarquínio da Silva Sousa Vieira e D. Aurora Amorim de Castro e Sousa, sendo seu pai um ilustre comerciante dedicado ao ramo da sapataria, arte que herdada do seu progenitor, que havia sido condecorado por el-rei D. Carlos.

Pela paixão que sentia pela imagem e a fotografia abandonou a carreira de técnico de farmácia, entregando-se, de alma e coração, à arte que o destino lhe traçara.

É um fotógrafo do dia-a-dia, do pequeno momento... do simples gesto, na procura da felicidade e do afecto.

As suas fotografias são concebidas com grande sensibilidade e perfeição, não lhe escapando o mais ínfimo elemento ao controle, que começa, desde logo, pelo conhecimento aprofundado das possibilidades de uso da máquina fotográfica, o que lhe permite um domínio criativo da imagem, incutindo-lhe uma certa magia, e se reflecte na reprodução da visualização, registando momentos únicos e magníficos a partir da sua observação.

Como é sabido, a Fotografia, enquanto arte, exige que se conheça a técnica, mas ao mesmo tempo é necessário não ficar refém da mesma. Mas Amândio Vieira não corre o risco de anular a arte pela perfeição técnica, pois é um artista que vê mais além, produzindo as imagens que a sua mente visualiza através de um determinado cenário.

Temos visto por esse país fora algumas fotografias que se podem considerar tecnicamente perfeitas, de contraste harmónico e boa qualidade de tons, mas não passam disso mesmo, revelando-se insuficientes e muito artificiais.

Ora, no trabalho de Amândio Vieira está tudo lá, mas nem tudo é visível, pois a fotografia enquanto arte é de per si a expressão da criatividade e ele não se deixa dominar por nada, a não ser pelas suas próprias convicções de artista. O autêntico fotógrafo é aquele que transforma a imagem em muitas palavras, e Amândio Vieira transmite-nos isso mesmo, fotografia esclarecedora, com grande impacto e única, que propicia uma explanação através de imagens, pressentindo precisamente o momento mais oportuno para captar a imagem carregando no botão.

Ao fotografar a sua Ponte de Lima, a arquitectura e as magníficas paisagens que a natureza proporcionou, situa-se numa relação directa com o objecto, e principalmente com a luz e a penumbra que limitam e lhe conferem identidade.

Amândio Vieira construiu um legado de modéstia e inteligência, precisão e talento. Como artista, para além de desenvolver um estilo que concilia a funcionalidade e a individualidade das obras fotográficas, nunca se acomodou ao estatuto que obteve e, não recusando a inovação nem limitando a sua obra, surpreende pela constante renovação.

Dotado de um estilo singular e prenhe de sensibilidade - quando o que paira é apatia - os seus trabalhos, de cores intensas e temas regionais, contemplam múltiplos aspectos sociais, éticos, históricos, estéticos e filosóficos e alimenta a sua arte com as lembranças de sua juventude, o que faz com que seja um dos protagonistas mais originais e completos da fotografia contemporânea.

Por isso, neste momento, para além de ser um Grande Artista Limiano e um iminente vulto da cultura local, é um dos Grandes Fotógrafos de Portugal!

Outrora Pablo Picasso disse: '’Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há também aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol.’’. Ora, é isto mesmo que acontece com Amândio Vieira, que produz arte com bastante arte, com autêntico sentimento e proficiência, com uma técnica incorporada na sua alma, o que faz com que as suas fotografias sejam autênticas obras de arte, pois transforma coisas comuns, em algo de profundamente belo.

            Mas Amândio Vieira é muito mais do que um fotógrafo. É, na realidade, um artista absoluto, que ao longo dos anos foi construindo uma obra de originalidade singular, exactamente à sua imagem de homem sensível e simples, que adora a fotografia destinando-lhe a vida…

E não se pense que a sua acção se restringiu apenas à fotografia, pois há também inúmera colaboração sua, quer fotográfica, quer em texto, dispersa por diversos jornais, revistas e livros.

Amândio Vieira publicou as seguintes obras:

  • Ponte de Lima – Formas de Ver, Edição Foto Lethes, 1992;
  • Ponte de Lima – Outros Tempos 1858-1949, Edição Foto Lethes, 1994 (1.ª edição), 2000 (2.ª edição);
  • Ponte de Lima, Minha Pátria, Edição Foto Lethes, 1996;
  • A Torre de Refóios – Antologia de Textos Ilustrados, Edição Foto Lethes, 1996;
  • Rainha D. Teresa “...e fez vila o lugar de Ponte” – antologia de textos ilustrados, Ponte de Lima 875 Anos (1125-2000), Edição Foto Lethes, 2000;
  • Um encontro memorável, Edição Foto Lethes, 2003;
  • Arte de Amar Ponte de Lima – A palavra e a imagem, co-autoria com Cláudio Lima, Edição Lions Clube de Ponte de Lima, 2004;
  • Feiras Novas – 1826/2006, Edição Foto-Lethes, 2006;
  • D. Pedro IV e as Feiras Novas – 1826, Edição Foto Lethes, 2006.

Em Homenagem ao limianista e Reverendo Padre Manuel Dias, editou em 2007 ''O Monte de Santa Maria Madalena''.

Também em 2010, ilustrou com a sua arte a obra de Luís Dantas intitulada ''Os Garranos na Península Ibérica''.

Ilustrou ainda, em 2011, com o seu génio fotográfico, o livro ''Sarrabulho de Ponte de Lima: A Gastronomia da Tradição'', coordenado por Nuno Brito e Ana Paula Vale, com coordenação editorial de Ovídio de Sousa Vieira e o engenho de Ângela Calheiros.

Também as fotografias do livro “As Portadas na Arquitectura Civil do Concelho de Ponte de Lima: Estruturas, Funções e Significados”, da autoria de Maria Amélia da Silva Paiva, número 4, da colecção “Estudos e Documentos” da responsabilidade do Arquivo de Ponte de Lima, são, na sua maior parte, da autoria de Amândio de Sousa Vieira.

De toda a sua obra editada em livro, vou comentar apenas duas, e em breves palavras, pois todas, sem excepção, são merecedoras de uma crítica mais pormenorizada.

Começo pela antologia de textos ilustrada, Rainha D. Teresa ''e fez vila o lugar de Ponte''.

Como o próprio autor refere, não se trata de nenhum estudo de historiografia sobre D. Teresa, mas antes, de uma antologia ilustrada sobre a sua figura e acção política. Amândio Vieira, aproveitando os 875 anos da atribuição do Foral à vila de Ponte de Lima, outorgado em 1125, pela rainha D. Teresa e seu filho D. Afonso Henriques, muito contribuiu deste modo para a renovação do interesse local por D. Teresa.

Antologia ricamente ilustrada por textos e imagens pormenorizadamente seleccionados dos melhores historiadores portugueses, que nos proporciona uma excelente variedade de fotografias e gravuras, com especial relevo para as iluminuras encomendadas para o efeito, da autoria da jovem Susana Espadilha.

Destacamos textos do Conde d’Aurora, Frei António Brandão, Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Cardeal Saraiva, Magnus Bergstom, José Hermano Saraiva, Joaquim Veríssimo Serrão, José Mattoso e Almeida Fernandes.

Com esta obra pretendeu Amândio Vieira desmistificar esta personagem, fundadora da nossa vila e que esteve esquecida durante várias gerações, fazendo jus à sua acção política, numa época em que o governo era dos homens.

Foi também Amândio Vieira o principal impulsionador da homenagem pública à nossa fundadora, que culminou com a colocação de uma imponente estátua, na Praça da República, que em nosso entender devia denominar-se Praça da Rainha D. Teresa.

Com D. Pedro IV e as Feiras Novas, Amândio Vieira põe em causa outras teorias sobre a origem das nossas festas e dá-nos a conhecer a Carta Régia de 5 de Maio de 1826, que considera o pedido dos ''moradores da vila de Ponte de Lima'' e estatui ''que nos sobreditos dias 19, 20 e 21 do mês de Setembro de todos os anos se faça feira (as Feiras Novas) de todos os géneros, mercadorias e gado''.

Esta Carta Régia, por si divulgada, contraria a carta que em 7 de Junho de 1826 é anotada no Livro de Registos da Câmara Municipal de Ponte de Lima, de acordo com a qual, talvez por lapso do escrivão, figura o nome de D. João VI, entretanto já falecido, ao invés do nome do verdadeiro concedente, que foi D. Pedro IV, repondo assim a verdade histórica sobre o que se tem dito e escrito acerca deste tema.

Não posso deixar de referir a ligação de Amândio Vieira à revista ‘’Limiana’’, publicação bimestral e órgão informativo de divulgação da cultura da nossa terra, editada pela Casa do Concelho de Ponte de Lima, em Lisboa, cujo director é o Dr. José Pereira Fernandes.

Amândio Vieira, para além de ter sido um dos grandes apoiantes do aparecimento desta revista, cujo primeiro número surgiu em Fevereiro de 2007, com uma bonita capa da autoria do Arq.º Ovídio Carneiro, tem colaborado e apoiado incondicionalmente este projecto.

São da sua autoria a grande maioria das fotografias aqui inseridas, quer a pedido dos respectivos colaboradores, quer da direcção da própria revista.

Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 24, de Outubro de 2011

 

Nota do Editor

Posteriormente à data da publicação deste artigo na Revista Limiana,  em Outubro de 2011, Amândio de Sousa Vieira publicou as seguintes obras:

  • Correlhã – Outros Tempos, em co-autoria com Manuel da Fonte Rodrigues Alves; e
  • P’ra Que Viva Ponte de Lima! Terra de Tradições, "um trabalho notável  pela acumulação de informação inédita, com criterioso levantamento das manifestações culturais de carácter popular que marcaram o nosso concelho de Ponte de Lima entre os meados do séc. XIX e os meados do séc. XX”, na opinião de João Gomes de Abreu Lima.

 

Amândio de Sousa Vieira,  Autor - Saber mais

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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