Memórias de um tio poeta..., por Cristina Lima Gomes

 

Memórias de um tio poeta..., por Cristina Lima Gomes



Cristina Lima Gomes



Celebramos a vida invocando as memórias daqueles que fizeram parte da nossa vida e que partiram deixando a sua marca em todos os que amaram. Mahatma Gandhi dizia que “A felicidade não está em viver, mas em saber viver. Não vive mais o que mais vive, mas o que melhor vive”. Esta é a minha homenagem a um homem que viveu melhor porque soube viver a vida como ela deve ser vivida.

O meu tio Rúben, aqui homenageado como um poeta de Ponte de Lima, era, além de poeta, um homem de família. Adoptou todos os que faziam parte desta família bem numerosa, com a sua forma especial de ser, com a alegria de viver, com a poesia e com o partilhar de ideias e pensamentos.

Em papel, em guardanapos, nos livros que lia, fosse onde fosse, registava esses pensamentos, tal como na obra de Eça de Queiroz aqui presente em imagem (1) , um momento de reflexão tão característico do poeta e homem que era.

Misturava a poesia com o nosso dia-a-dia, aparecendo sempre uma estrofe quando menos esperávamos, que apanhava rapidamente aquele momento e o transformava em pura poesia, eternizando-o. Partilhava o seu pensamento filosófico abrindo os nossos horizontes de jovens cabeças pensadoras a mundos desconhecidos.

A sua passagem pela vida não foi longa, mas deixou na poesia, na pintura, na filosofia, na família e nos amigos, registos de uma vida vivida até ao limite, em que qualquer pequena coisa merecia o seu interesse, a sua reflexão, ou a ilustração num rápido esboço de artista, marcando em papel as cores dos momentos vividos.

Foi um exemplo para todos nós na dedicação pela minha tia Geninha, e no amor que lhe devotava incondicionalmente. A sua vida de saudade eterna é prova de que foi e será para sempre insubstituível.

Deixou na família a saudade de um marido, tio, cunhado, genro e até tio-avô que celebrava a vida com uma positividade sem limites, uma riqueza de ideias, uma alegria de viver que transbordava. Contribuiu de alguma forma para que fossemos melhores e de certeza para irmos mais longe nas nossas escolhas, nas nossas vidas, porque nos ensinou a ver a vida com poesia, com amor, com alegria e com mais imaginação.

O meu tio Rúben teve uma vida curta mas cheia de sentido, conseguindo ser maior do que a sua própria vida. Esta homenagem que hoje lhe dedicamos é prova disso. Como dizia Waldo Emerson “ O homem é um pedaço do Universo feito vida.” O tio Rúben foi um pedaço desse Universo e tornou-se vida pela sua obra e pela sua entrega até ao último suspiro. E continua vida em todos os que viveram com ele.

Agradecemos aos que se lembraram, aos que colaboraram e aos que quiseram fazer parte desta homenagem a um homem de Ponte de Lima, um poeta, que fez parte da minha família e das nossas vidas na sua passagem por aqui.

 

(1) Pensamento registado na capa de uma obra de Eça de Queiroz

Eça, com sua fina ironia,
e uma sábia crítica social
de todos nós bem merecia
uma releitura integral.

 

Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 25, de Dezembro de 2011

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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