Monumento a António Feijó, Poeta e Diplomata - por Amândio de Sousa Vieira

 

Monumento a António Feijó, Poeta e Diplomata - por Amândio de Sousa Vieira



Amândio de Sousa Vieira



No dia 1 de Junho de 1938, foi solenemente inaugurado o monumento que homenageia dignamente a memória do grande poeta limiano, António Feijó.

Situado numa das mais bonitas praças de Ponte de Lima, o busto do poeta está muito bem integrado num conjunto arquitectónico em que sobressaem dois dos seus poemas. Um pormenor bastante inteligente são os bancos que ladeiam o corpo principal, a permitir descanso e tempo para reflectir sobre a grandeza do poeta.

António Feijó nasceu na Rua do Pinheiro, em 1 de Junho de 1859, e faleceu em 21 de Junho de 1917, em Estocolmo, Suécia, onde era Embaixador de Portugal.

Tendo a sua morte ocorrido em plena 1.ª Grande Guerra, não foi possível, por essa ocasião, transladar os restos mortais para a sua terra natal, desejo de António Feijó que só viria a cumprir-se dez anos mais tarde.

Não o esqueceram os muitos amigos e admiradores que tudo fizeram para que a vontade do poeta se concretizasse. Precisamente a 11 de Novembro de 1927, num navio de guerra gentilmente cedido pelo governo da Suécia, que tinha por ele grande apreço, chegaram a Lisboa os corpos de António Feijó e de sua mulher Mercedes, repousando os dois no cemitério de Ponte de Lima, para sempre lado a lado, em digna sepultura, na terra que o grande poeta tanto amou.

Em 1922 constituíram-se em Lisboa e Porto comissões com a intenção de erguer um monumento à memória de António Feijó.

Presidia à comissão de Lisboa o General Norton de Matos, fazendo parte da mesma, entre outros, Alberto de Oliveira, Delfim Guimarães, Conde de Mafra, Júlio Dantas e Agostinho de Campos.

No Porto, a comissão era constituída por Luís de Magalhães, Antero de Figueiredo, Alberto Eça de Queiroz, Júlio Brandão, Visconde de Pindelo, Padre Celestino Vale e muitos outros.

Em 1923 formou-se mais uma comissão, desta vez em Viana do Castelo, presidida pelo Governador Civil, Artur de Barros; Major Nicolau Bacelar, António de Magalhães Barros de Araújo Queiroz, Bento Cândido da Silva, Capitão Gaspar Malheiro Pereira de Castro, António de Cardielos, etc.

Em Ponte de Lima organizou-se também uma comissão, tendo à frente João Gomes de Abreu e, como tesoureiro, o comerciante Manuel Antunes de Faria. Ambos faleceram antes de se concretizar a homenagem, tendo passado a coordenar todo o movimento o Dr. Luís da Cunha Nogueira. A Casa Comercial João da Cunha Nogueira, Sucessores, fazia o depósito dos donativos.

Seria exaustivo transcrever aqui todos os nomes dos que contribuíram para que se efectivasse a intenção das várias comissões, mas não deixa de ser interessante citar alguns nomes, ganhando destaque, pela generosa oferta, o Dr. Alberto de Oliveira, com 1.000$00, depois os Dr. Araújo Lima; Dr. João Pinto dos Santos, D. Rosinda Castro e Dr. António Augusto Durães, com 500$00. Outros donativos foram feitos pelo General Norton de Matos, António Augusto Vieira Lisboa, Delfim Guimarães, Duque de Lafões, Dr. Júlio Dantas, Cónego António Miranda de Magalhães, Dr. Augusto Mendes Leal, Dr. António Homem de Melo, Baroneza do Seixo, Dr. João de Barros, Dr. Carlos de Passos, António de Carvalho Cirne, Padre Celestino Vale, Júlio de Lemos, Condessa de Bertiandos, Joaquim Santana da Silva Guimarães, Dr. Amândio Lisboa, Dr. Luís da Cunha Nogueira, João Gomes de Abreu Lima, João Francisco Rodrigues de Morais, Manuel Pires de Melo, Dr. Cândido da Cruz, Severino de Faria e tantos mais que quiseram contribuir para o digno monumento que só 16 anos mais tarde veio a ser inaugurado.

O belíssimo busto de António Feijó, obra do grande escultor Teixeira Lopes, custou 10.000$00. O valor total das subscrições foi de 16.599$83, tendo sido entregue à Casa de Caridade de N. Sr.ª da Conceição, de Ponte de Lima, o dinheiro que excedeu o valor pago ao escultor.

Da construção, embelezamento e dignificação do monumento, encarregou-se a Câmara Municipal, sendo na ocasião seu Presidente o Capitão Alberto Machado.

Foi considerado muito relevante, também, o contributo do Dr. António d’Almeida de Faria Lima que, além da contribuição para a inauguração do monumento, lançou as bases para a 1.ª edição das Obras Completas de António Feijó.

Precisamente a 1 de Junho de 1938, dia em que completaria 79 anos, é inaugurado, com grande pompa e participação, o monumento que muito dignifica a memória do poeta.

O busto de António Feijó foi descerrado por sua filha Joana Mercedes, vinda expressamente de Paris, onde residia.

Discursaram o Presidente da Câmara, o General Norton de Matos, o Dr. Alberto de Oliveira, grande amigo de Feijó, os poetas João Saraiva e Correia de Oliveira, etc.

Do discurso de Norton de Matos, citamos uma pequena parte que pode sintetizar todo o sentimento vivido.

“Nasceu e cresceu António Feijó em plena Ribeira do Lima. Nenhum lugar conheço no mundo onde a harmonia das coisas se revela com tanta expressão natural e nos enlaça tão suavemente como nesta parte central da bacia do Lima.”

“Muito deve a terra em que Feijó nasceu ao alto poder de expressão do seu grande Poeta; mas também o génio do Poeta não teria sido o que foi, se não tivesse a embalá-lo desde o berço a beleza das coisas que nos cercam.”

O Padre Araújo Lima foi um dos grandes responsáveis pela homenagem. A ele se deve também a edição de um opúsculo que nos deixou todas as preciosas informações e que nos permitem hoje saber a quem se deve o primeiro monumento digno desse nome a ser construído em Ponte de Lima, homenageando um dos seus filhos mais notáveis.

António Feijó tem merecido sempre a maior admiração dos seus conterrâneos. Recentemente, mais precisamente a 1 de Junho de 2004, a Câmara Municipal de Ponte de Lima levou a efeito grandes comemorações, culminando com a apresentação das “Poesias Completas” de António Feijó, com prefácio e organização do Prof. Doutor J. Cândido Martins, das Edições Caixotim, e com o apoio da Câmara Municipal de Ponte de Lima.

No ano seguinte, em Junho de 2005, foi também apresentada a obra “Poesias Dispersas e Inéditas”, do grande poeta, da mesma editora e organizada igualmente pelo Prof. Doutor J. Cândido Martins.

Publicado na Revista LIMIANA n.º 2, de Março/Abril de 2007

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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